sexta-feira, 3 de abril de 2015

Por que sou contra o Sirsasana ou (Postura do Pouso Sobre a Cabeça) ?



 De todas as posturas de Yoga, que são de número quase infinito (incluindo suas variações) certamente uma das mais desafiadoras - e por isso mais cobiçadas pelos praticantes em todos os estúdios de yoga do mundo - é o tal pouso sobre a cabeça - sirsa (cabeça) + asana (postura).

É inegável dizer também que se ele for feito corretamente e com instrução adequada** a postura é ótima e muito bem classificada em todos os tratados mais tradicionais do Hatha Yoga.

Vale notar também que nestes textos antigos e preciosos essa tradição era passada de mestre para discípulo como um segredo, um tesouro particular e pessoal recluso e isolado de outras pessoas.

Acontece que a situação que se observa nas capitais de todo o planeta é um tanto diferente pois na sala de Yoga existem vários praticantes juntos, inevitavelmente observam-se uns aos outros e apenas um professor instruindo a ação de várias pessoas ao mesmo tempo. 
Estes dois detalhes acima terão influência direta nas consequências desta postura.
Primeiro porque é obviamente natural e não-condenável que um praticante ao ver outros em sirsasana sinta-se impelido a realizar a postura também mesmo sem ter o preparo que ela exige APESAR DE TODA ÊNFASE EM AHIMSA (NÃO-VIOLÊNCIA) QUE O PROFESSOR POSSA FORNECER. Trata-se de uma questão de comparação e às vezes até de ego, leia-se: eu-consigo-fazer-isso-também!
Na outra ponta apenas 01 professor numa sala com algumas colunas vertebrais invertidas poderá eventualmente não conseguir deslocar-se a tempo de socorrer uma queda sobre a cervical.

Fato é que tenho nestes anos recebido algumas pessoas que se machucaram ao realizar o pouso com outros professores bem-intencionados (afinal aprendemos esta postura nos cursos e com os mestres também). As queixas são as mais diversas: uma moça (que não vou declinar o nome aqui) teve uma hérnia cervical que lhe rendeu 6 meses sem movimentar os dois braços normalmente, curou-se com muita fisioterapia e acupuntura. Outro rapaz jovem, flexível e disciplinado com 25 anos e 7 anos de prática tombou prá trás e trincou o cóccix sofrendo com dores. Além do caso noticiado pela mídia no Rio de Janeiro em de fevereiro de 2015 do surfista Filipe Fairich que morreu, segundo a matéria, após fraturar o pescoço fazendo a postura numa praia. Não sei se seu falecimento de fato foi relativo à postura, afinal desencarnar é também Moksha.
Também não vou ser eu a ficar aqui pichando uma postura que beneficia milhões de pessoas e só faz mal à algumas e em alguns casos isolados. 
Mas ao invés de tapar os olhos, fingir que a culpa é do praticante e reafirmar que a velha tradição está sempre certa, prefiro Satya - Verdade.

Então fica aqui meu olhar reflexivo de paz que contesta, lembrando do que meu mestre me ensinou sobre zelar pelo que é mais importante - A SEGURANÇA DO PRATICANTE.
Fica o olhar que não fecha as pálpebras por falta de opção mas por estar a par de tudo: será que a postura da vela por exemplo:


não seria uma opção bem mais segura para ser ensinada em grupo?? 

Pois os alunos particulares estão em outra situação é claro... Digo isto pois o Sarvangasana -  a postura da vela tem de fato o mesmo efeito de inversão do tão querido pouso sobre a cabeça, ou pelo menos, um efeito bem semelhante. 

E sem reproduzir o FORMATO da postura mas reconhecer que o queremos é o EFEITO das posturas de Yoga, podemos olhar com lente de aumento para um fator tão importante como este...
Ou ainda, utilizar as koruntas para que não haja impacto nem compressão das pequeninas vértebras cervicais e somente o efeito desejado***.

Por isso resolvi escrever este texto para que talvez outros mestres e praticantes também possam pensar e refletir sobre o assunto para assim, formar suas opiniões, afinal, quando se pensa em Yoga não se deve ter preconceitos ou dogmas mas sim experiência, estudo e verdade!

Com amor,

Marcela Maia 
é instrutora de yoga no butantã, musicista e massoterapeuta.
www.aguavivayoga.com

**observadas as contra-indicações da postura como crise de pressão alta não controlada, problemas nos olhos (como tendência ao descolamento de retina), ferimentos bucais como extração de dentes feitos recentemente.

***observadas as corretas instruções de instalação da korunta e sua manutenção, bem como monitorado cautelosamente o tempo de permanência na mesma.

 

4 comentários:

  1. Genial, Marcela! Lembro de conversarmos sobre isso em aula. Eu mesmo tive um problema na coluna cervical em uma tentativa frustrada de fazer a postura invertida do pouso sobre a cabeça. Desmontei e travei pescoço e ombro. Saí da aula com dificuldade para girar o pescoço. A escola era ótima, mas de fato o professor não tinha como dar a atenção devida a cada aluno. Por sorte não tenho sequelas, mas percebo que os músculos trapézios estão mais rígidos do que antes.

    ResponderExcluir
  2. Super concordo c seu parecer sobre o assunto , o complicado é que mesmo qd nós instrutores informamos e pedimos p aluno esperar estar apito, ou ser entrevistado ou ainda qd vc informa q ele não deve fazer e vc da as costas ele faz , difícil p nós, o aluno as vezes toma como desafio e mesmo sem poder fazer teima e na maioria das vezes se machuca mesmo...ou pior qd se machuca aluno já antigo pq não respeita as limitações do próprio corpo naquele dia e literalmente de joga ,dando pulinhos da entrar nas invertidas ,esquecendo q aqueles pulinhos, afetam diretamente a cervical ....

    Sou bacharel em educação física, especialista em reabilitação, Instrutora de pilates e yoga lido vc isso toda semana, gratidão pela sua fala , namaste!

    ResponderExcluir
  3. Essa postura não é mais aplicada nos nossos centros de Yoga, após análises com fisioterapeutas e médicos a pressão sobre a coluna cervical irá causar danos pelo peso do corpo , é linda é mas não necessária.

    ResponderExcluir
  4. Sou professor de Yoga,uns 50 anos e não aplico essa postura, aqui na cidade os médicos e fisioterapeutas não indicam o Yoga em função dessa e outras posturas sem cunho científico por sobrecarregar a cervical, estou iniciando um trabalho com o uso de quadro negro, com fisioterapeuta, estudando as vértebras e o peso que sobrecarrega, talvez assim possamos salvar o Yoga

    ResponderExcluir